
Ando afim de ir pra algum lugar, sei lá, algo semelhante a um Woodstock. Um mato, pode ser um parque. Música boa. Boas pessoas, felizes, drogadas ou não, desde que a energia seja positiva. Diferentes, cada um à sua maneira, porém abertas, dispostas. Não só aceitando as divergências, mas interagindo. Um lugar receptivo, aconchegante, espaçoso. Sem restrições, recriminações. Pra poder pular, cantar, dançar, rolar no chão.
Eu quero flutuar ao som de um blues.
Eu quero sentir! ..... A música, as pessoas, a terra, a chuva.
Eu quero rir com meus amigos, quero fazer novos amigos.
Eu quero algo que me realmente me divirta, que me excite, que penetre minhas entranhas com aquela sensação de bem estar, êxtase. Que me invada, que tome conta de mim.
Fugir um bocado...
Me sinto uma atriz. Fingindo ser feliz. Fingindo me divertir.
Não sei em qual mundo quero viver, pois o que eu idealizei só tem um habitante: eu. Minhas idéias, meus valores, minhas vontades, minhas necessidades, meus interesses não são compartilhados. Aliás, nem dá pra desfrutar de muitas coisas pois dependem de outras tantas. Tudo o que eu quero muito fazer agora está fora do meu alcance. Dentre essas, muitas são impossíveis.
Por falar nisso... Ele não aparece... Aquele que eu fico ironicamente esperando surgir inesperadamente de algum lugar surpreendente. Assim, sem querer.
Ai, cansei dessa inércia.
Um comentário:
Vou-me embora pra Passárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Passárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada
Manoel Bandeira
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